segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Encontro





O Encontro



Um lento desenrolar de chuva na tarde fria

Escorre pelo meu corpo,

Como a alma contida de um lobo ferido

Com facadas de luar.

Flores de névoa desmaiam nos caminhos,

São as incontáveis gigantes esferas

Que rolam em mim,

São as malhas vertiginosas teias

Desencantando as raízes inchadas

Do meu eixo torcido no meio.

A mola encrava nas esquinas do ser mais estreitas.

Os acordes de música silenciosa na noite invertida

Incluem-me no leite da matéria,

E eu já sinto o tédio de não poder haver mais.

Até que surges tu de dentro de um cacto leitoso

Qual borboleta travessa,

Com a água toda no teu olhar moribundo

E labaredas nas asas dos pés

E eu atiro-te um beijo de chumbo.

Uma tempestade absoluta alaga a pele,

Voos húmidos escondem a hora escura.

Terna a fome de um sorriso meu

No beiral da morte mais crua.

Há lareiras a aninhar-se na minha alma

Orgasmos longínquos

Que clamam na calada matricial da noite:

É fresco o sangue que habita

Nos caules profundos do inconsciente,

Como um comboio mental em andamento

Dentro da estação da imaginação,

Como bolsas de carne viva em auto-violação,

Como a poeira que salta das bocas,

E lembra o beijo vaporoso e cinzento

Em que me afundo continuamente,

E te bebo, te respiro,

Te engulo todo

No ápice infinito da evidência,

No teu gemido espectral de poente louco refractado

Na noite onírica ancestal.


É um buraco enorme o que me resta.

Um monstro buraco que deforma todas as imagens,

Simbologias, modos de ser por dentro,

Gestos de mostrar por fora,

Ideias entretidas a ser pessoais.

Um buraco de onde retiro a essência do vácuo,

Medito

E adormeço nua nos teus braços.