terça-feira, 25 de novembro de 2014

Duas casas





Duas casas       

I.
Encontrar
O ângulo roto pelos olhos das aranhas
No arder do canibalismo das flores
Na tenra tessitura das folhas ressurgidas
Na carne da luz em cada átomo blindada:
Gomos de lume apodrecido
Sob telhas de outro oxigénio.

A terra esventrada pelo ciúme
Searas de carvão acirrado a arder
E as aves na ferrugem das roldanas
O inculcar de branqueamentos na língua.
Saber que nascemos antes.


II.
Dentro dos degraus o medo
A brutalidade de resgate impossivel_mente
Na entropia dos gestos sobre a velhice.

Uma criança chupa céus nos intervalos
Da circularidade de uma jugular desmaiada
Na praça dos olhos subtraídos
E a necropatia dos meus nervos reflectidos
Infinito íngreme (in)finito
Impérvio trovão
Obsessivo e falhado (en)truncamento.




segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Sonoplastia da ausência




Sonoplastia da ausência


Dias depois,
o zumbir de cactos fascinados.
a memória salta cavalos lógicos
esmagando a água curvilínea das histórias
e eu fico-me um eixo tresloucado
com o sol a crescer nas garras retrácteis da dor.

Sento-me num prazer duplicado
pela diferença dos corpos
lambo a língua às paredes do meu corpo
pela diferença das vozes
trucido os gatos tintos no estômago
pela igualdade da seiva que vulcaniza
pelo mel de banhar invernos a dois.

Há um estar plasmático que foge
numa atrocidade indiferente.
as mãos vazias a tocar a luz
vazias de entendimento
memória em delírio fragmentada.
um homem vivo, tu, na minha garganta
a semicerrar as pálpebras do mundo
a segregar afectos em salivas transformadas
e os sons inventados pela ternura das velas.

Ainda as mãos vazias. E tu. Dentro.

Só o verbo cura as crisálidas que não morrem.
não te preocupes:
no caleidoscópio da ausência,
a atenção extasiada
a permeabilidade dos morcegos à noite
a liquefacção real dos suores mentais
a osmose na polpa dos olhos.
nas mãos da memória –
orgasmo de dedos partidos,
na pele intermitente e cruel das lembranças,
crianças desaguam no refúgio das veias
odores soltam o rodopio de uma onda liberta
que desdobra a infância escarlate
e o brilho das flores Tuvalu.

Digo: não te preocupes...
há a corda intermédia que torna invisíveis os nomes,
trapos de nomes que nos ardem nas lanternas dos pés.
nos ombros solidamente pousados em paredes que voam,
a erogenia de um sonho nu
um barco sem fronteiras
num mapa de ilhas líquidas
que trans_bordas(te).