Princesa Vermelha ou A Inauguração da
Fome
Entre
véus oculta inefável
A
tua face de lua arábica
Toca
dourada a fímbria da carne.
Em
olhos manando de absoluto
A
imemorial manifestação xamânica
Cosmos
auréola de seiva branca.
Selvagem
princesa primeva
Soberana
essência do meu núcleo
Teus
longos cabelos castanhos
Torneiam
de feras as costas
E
de sombras rubras as paredes em ópera.
Vens
da boca de noites infantis
Dos
princípios do pasmo auricolor
Musical morna ritmas de hipnose
As
membranas místicas do suor
A
aurora na tua língua
Nervo
sináptico entesado.
Em
flôr sincera a aflição sagrada
Um
medo novo na disformia do rosto
Desnudamento
irrepetível de ângulos impossíveis.
Sopro
garfos de estrelas na garganta
Não
há voz ou fisionomia que reconheça
Só
lonjuras, utopias
E
um navio que te transporta
Clarão
escarlate fluindo-me para as veias
Pela
doçura mansa de um arquear
Pela
oferenda que trazes nos olhos estrangeiros
Meus
e desta nossa fome improvável
Sem
género Sem estatuto
Em
terceiro andamento deflagrada.
Há
uma luz rosa a explodir-te-me no ventre
Areais
de cera líquida rescendente
Ouroboros
que constróis devagar
Como
se em mim desenhasses o mundo.
Na
substância inspirada de mil incensos
O
delírio sem retorno da minha ânsia sem fim
O
salivar de veludos píncaro
Sublime
enleio soluçado
Suprema
transfusão
Lábios
tensos de primavera.
O
peito fúlvido assedia a água
Quer
buscar-te à boca o primeiro castelo
Comer-te
o lábio-clítoris as pestanas
̶ Novelo
Ómega
E
as pernas fechadas são pálpebras
Derramando
o desespero da fruta aberta.