segunda-feira, 7 de julho de 2014

Náusea




Náusea


Mordem-se gargantas de sal na criança vadia que comeu o nome. Àquela hora, as flores esticam-se em bicos de pássaro em busca das vozes que rasgam os olhos na diagonal. Inquieta, a água densa baloiça precipícios no corpo. Os filhos da náusea aproximam-se, trovejando lágrimas nos portos vermelhos do submar, e a solidão levanta, em quarto crescente, as noites brancas. As pestanas gotejam luas distantes e gordas que não vêm na enciclopédia, corpos impossíveis a latejar despojos de nuvem no vazio, corpos que são buracos a expandir-se do avesso. Sabes, às vezes é como se tivesse orgãos meus no teu corpo, e tu o sangue caído no meu... e as lâmpadas rastejassem mandíbulas pela música até ao aturdir das pistas deixadas pelos caminhos, das cordas cansadas lançadas na escarpa húmida da vida. Ah amor, espera... espera para ouvir o piar do sol no som felino das teclas, e então estourar a pique esse balão profundo de vísceras onde mora o vácuo.

 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Anoitecer




Anoitecer

 
Encanta-me a cinza da luz azul sobre os telhados
O pêlo frio do gato que regressa a casa
O pano estendido na corda de que ninguém se lembra
A corda ébria de vento
Que às vezes tem frio.
 
Dizem que a luz desmaia
E a claraboia é a cama etérea da filha do sol
Mas a luz apenas se esconde por detrás de véus antigos
Como uma dama tímida e belíssima
Que assim te pode ver melhor.
 
O ramo da buganvília tem segredos verdes
Confissões puras da cor complexa da terra
E sobre o mundo pousa uma ave profunda
Que nos beirais das gentes nuas paira
e sobre o teu corpo, ávida, respira.