Pétalas por
segundo quadrado
No cimo da colina, um poço gasto e branco. A boca de mãe
que suga os precipícios.
Limões derramados na voltagem das sinapses de velhas fábricas,
caixas de correio abertas para coelhos fantasma e olhos devoradores de nucas
negras. A mão assenta perfeita, grande e antiga, na enseada da cintura de
Vénus.
Entre ruínas verdes, um barco sonha. Está tolhido debaixo de
uma ponte de arcos altíssimos, sobrevoado por pássaros que desabrocham flores
no ânus e as vão soltando, fazendo medições das alturas, acelerando o rodopio
das íris do rio. Em tons de anil e rosa elas vão passando com a maré,
distorcendo-se magnificamente para espreitar. As flores. Os ânus. Os veios
metálicos do barco que navega de saia, comendo as suas próprias imaginações.
A noite dos lábios parece dizer que tudo já passou infinitas
vezes, que a hora não é nossa, que só nos resta o onanismo perante o espelho
fragmentado do passado. A noite não vê. A noite não respira o que se faz com
ela, as mãos moldando os arcos, as eras espectrais enrabando os reflexos, o
sigilo da morte perante o desejo puro e aguçado de quem sabe observar.
Jovens esguios e longos como sombras ao entardecer descem
vagarosamente pela ravina. Vê-se a barbatana emergir, húmida, entre as silvas quentes.
Vê-se estenderem silenciosamente a pele, montarem uma cama de rede para ver as
pléiades, as pétalas cadentes de ânus que se vertem, afastando as penas. Vê-se
pendurarem maçãs furadas por incensos nas traves do barco, e trincarem
as maçãs de rosto perdido um no outro. Vê-se que semicerram o tempo, cuidam de
não agitar os segredos que foram largando pelas raízes do monte.
O vale é largo e fundo, como tu. Pelas frestas verticais uma
aurora boreal desprende-se, caçando a matéria das garças pela garganta fora.