segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

SóAve



SóAve


Da berma de uma estrela marginal
uma ave canta o sossego da morte.

Quieta serena
ergue-se sem sombra debicando o vazio
alimentando a voz de azuis empalados
e o coração de magras garras brancas.

Os olhos são esquinas de vidro a arder,
verbo impossível
e as patas delicados castiçais de sono,
aranhas que só constroem teias interiores.

Quando morre uma ave morre toda uma religião.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

A nuvem



A nuvem

Morro calma
Sublime subtil corda de tempo estendida...
Percorro-a imperceptivelmente
Dentro da nuvem que há na tua voz --
Enleios de chuva morna que apenas molha os lábios
e as íris dos caleidoscópios totalmente brancos.

Natureza incorpórea distende brandura
Em anestesia lúcida que cala e espraia
Mudez em onda interminável
Nudez neblina em esquadria de espuma
Feixe de ternura aguda, perfeita
Que dói suavíssima e indolente
Como barco em leito profundo
Que fica, e gosta
E nu
Vem.

Morro calma
No lençol puro que há por dentro
Quando o soluço se derrama em silêncio
Quando o amor não precisa de ser dito.

Morro calma
Na nuvem que há na tua voz
Na tua cama alva à beira do rio.