A FEBRE
as mãos da febre entram em volúpia nos corpos desalojados. moldam crianças nos rostos, acendem fogueiras nos olhos.
caçadora-irmã dos lobos que saltam das veias, a febre faz o medo afiar-se num outro espaço ôntico e os pés estremecerem numa casa de novos partos.
os membros de bronze fundido agarram as horas pela nuca em banhos de gelo suado. querem alcançar o escadote que leva para além das clepsidras.
a febre devora os náufragos. envolve num estranho carnaval aqueles que perderam todas as máscaras e se esqueceram de tirar a gargantilha.
as patas da febre sulcam trilhos infernais na voz. aurora boreal estilhaçada no corpo, corrompida em fios quentes de tecer infernos e outras místicas alcovas.
mas a febre não é vermelha, a febre é negra como a boca dos velhos. a febre faz os dentes medirem o vazio entre as estrelas.