sábado, 21 de novembro de 2015

Corujas-Cometa





Corujas-Cometa


No útero de um nocturno de estrada
Veredas por vir aos solavancos
A miragem oblíqua de um casal de corujas.
Esquinando um galho de lua
A foligem de flores estrábicas fura
O arrepio na sombra redonda dos escóis
Aladas existências no breu.

Lua dos limões
O sumo que nasce nas penas íntimas
Verte o escombro mudo das árvores fundas
Pelas unhas eidonistas da noite
E coagula o grande olho irial
Na grafite ruiva das nuvens.


Clave de Sol





Clave de Sol
(para a íris)


Rocha recortada d’invernos
Argalha onírica de línguas e sal
Em pauta quente aspira estendida
Os ponteiros ilacrimáveis do céu.

Fumegantes existências do vale
A placenta da serra ferve pura
Patas com olhos por vir
Seara umbilical de brumas e covis.

Nas teclas do vento
Engolir gargantas de árvore
Sopros de leite que respiram
A estrela que brilha dentro das pedras
Quando se arrancam à pele os tapetes
E a carne é de milénios.

Timbre solene da montanha
Lambido repouso em palco de névoa
Mergulham livres caldeirões
Nos absortos buracos das raposas
Hálitos em maré viva
Abrem sémen mineral
As águas coreografadas pelo fogo.

Uma águia ébria de guilhotina muscular
Finta o horizonte de dióspiro
Com nervos de vapor ensandecido
Sorve o crepúsculo fibroso de espirais
No palato aberto das asas
Os olhos no cume do bico.

Hélice nebulosa dos píncaros
Foice deslumbrado de vertigem
Teus céus pousados de feno e de barro
Acolhem a pele do som que rasga
Fatias húmidas de terra
O sopro dos bichos
A pele dos bichos
A nuca dos penhascos.

Fecha-se agora à chave o sol
Rilha-se o sonho a dente de javali.
Quando a galáxia se ausculta
E se entorpece na caça o maestro das nuvens
Assim nasce na serra a história dos fantasmas.