quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Princesa Vermelha






Princesa Vermelha ou A Inauguração da Fome

 

Entre véus oculta inefável
A tua face de lua arábica
Toca dourada a fímbria da carne.
Em olhos manando de absoluto
A imemorial manifestação xamânica
Cosmos auréola de seiva branca.

Selvagem princesa primeva
Soberana essência do meu núcleo
Teus longos cabelos castanhos
Torneiam de feras as costas
E de sombras rubras as paredes em ópera.

Vens da boca de noites infantis
Dos princípios do pasmo auricolor
Musical morna ritmas de hipnose
As membranas místicas do suor
A aurora na tua língua
Nervo sináptico entesado.

Em flôr sincera a aflição sagrada
Um medo novo na disformia do rosto
Desnudamento irrepetível de ângulos impossíveis.

Sopro garfos de estrelas na garganta
Não há voz ou fisionomia que reconheça
Só lonjuras, utopias
E um navio que te transporta
Clarão escarlate fluindo-me para as veias
Pela doçura mansa de um arquear
Pela oferenda que trazes nos olhos estrangeiros
Meus e desta nossa fome improvável
Sem género Sem estatuto
Em terceiro andamento deflagrada.

Há uma luz rosa a explodir-te-me no ventre
Areais de cera líquida rescendente
Ouroboros que constróis devagar
Como se em mim desenhasses o mundo.

Na substância inspirada de mil incensos
O delírio sem retorno da minha ânsia sem fim
O salivar de veludos píncaro
Sublime enleio soluçado
Suprema transfusão
Lábios tensos de primavera.

O peito fúlvido assedia a água
Quer buscar-te à boca o primeiro castelo
Comer-te o lábio-clítoris as pestanas
̶   Novelo Ómega
E as pernas fechadas são pálpebras
Derramando o desespero da fruta aberta.