sexta-feira, 22 de maio de 2015

A calopteria das crianças líquidas



A calopteria das crianças líquidas

Mergulhas cabelos na nuca do rio
Escotilha rasgada de peixe felino
O pestanejar de borboletas puras declinado
Num sopro de navios bailarina
atravessar o axioma invisível de matérias nuas
Translúcida masturbada estrela
escorrendo saliva entre as folhagens

Resolução inefável de um ângulo máximo
Águas de pés redondos e axilas ao sol
Água plena de úteros dissolvidos
Reslumbrando ouros negros
Ondulação de aves liquefeitas
Andamento polvilhado de silêncios brancos
Pós de céu tecidos pela primavera do vento

Crianças d’água flamejam pétalas de rio
Ouriços de estrelas coroam as árvores de anãs brancas
Teias trémulas de galhos pluma
Línguas extasiadas seguem a fulgência
Entre as coxas
A consistência arrebatada do músculo do rio
Os pés subtis do fogo
E na violência diáfana das cascatas
O imergir umbilical de grandes diamantes -
Os caçadores de júbilos

Girinos nadam na garganta
peixes de açúcar gelado
Inextirpável nutrir-se na homeomeria dos espelhos
Nos nós inumeráveis da urdidura suspensa
Janela máxima do instante
Geografia perfeita na obliquidade das formas
que transporta ninhos fabulosos à superfície
O lugar dos olhos álalos das raízes orfãs

Desvendar lisuras verdes
Uma paz clara que transluz crianças líquidas
Que transluz infinitos pelas teias das aranhas fluviais

Oscilar a íris na umbria das esférulas
A luz trepadora dos muros das coisas
Girar a intocável força dos vectores fluviais
Apalpar a inércia do paraíso com o rosto liberto
Esgaravatar alegrias
Dissolver a brancura concentrada na visão em barbatanas
Dinamites de beleza

Uma libelinha azul toca Liszt com as asas
Precipita-se
Antenas xamânicas sondam o sol vermelho
que comemos à colher