quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

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Embalamos luzes côncavas.

Num aquário alumiam-se os barcos bastardos do farol
A lava condensa oceanos apertados
Até o calor fecundar o hemisfério líquido dos olhos.

Derrama-se o lume pela língua
Num tronco torneado de mar
A alegria inefável do mergulho
No hálito das laranjas virgens
A fronteira sussurrada do mundo
E sobre as mantas de um supra-real
A insuportável cria da beleza.

A cifra do número concentra
A densidade corporal do som
Na clareira suada de símbolos
Em derradeiro domínio de aves glandulares
Embalamos luzes côncavas.
 

Inter(sol)stício




Inter(sol)stício


Do fogo tenho a dizer-te:
Roubou o azimute dos meus olhos.
Os esqueletos vegetais a arder
Pintores dos nervos cegos do mundo
A nossa pele sem paredes
A fuçar estrelas nas dobras em flâmula.

Em silhuetas recortadas ao âmago do medo
Desbasta-se a fronteira agreste da ânsia.
O magma colado à febre inefável do nu
Concentra a mudez longínqua nos ângulos da noite.

Sobre as traves as sombras de uma gata
De bigodes exalantes de odores brancos
Em absorto fascínio pelos arquétipos.
No chão um pó uiva rico de séculos
Crepitando íntimos insectos negros
Sagrados infinitesimais em série convergente.
E dos muros transparentes do vinho
À luz de complexos origamis
Nocturnos quietos suplícios
Intervalos que rastejam
O colapsar lento dos olhos.

Mas o domínio é da gruta que alberga e transpira
Ondulada de buracos que tremem
Como um ânus luzindo o abrandamento da Terra.
Um ladrão de contrastes e interstícios
Na concentração aguda dos inícios
Um aquário intacto em labaredas.

Enclaves de arqueologia desbravados
Em vértebras de terra e noite
No salivar das cúpulas de neve
O alcantilado prazer
Dos deuses de fumo.