quarta-feira, 4 de julho de 2018

Para certos dizeurs



Aos que usam a poesia dos outros
para criarem eventos finos
mostrarem toilettes
e caçarem namoricos
há que advertir o seguinte:
apesar de não saberem
a criação tem um preço:
é a vida!
E a vocês que exibem
o talento que não têm,
um consolo
não fiquem tristes
que o que declamam entre perfumes
e copos de vinho caro
muitas vezes nasceu na lama
no esterco na dor do charco.
Não se aflijam pois de serem apenas
delegados da palavra alheia
dá para parecer inteligente
e por dentro ser só de areia.
Quanta vantagem tem por isso
não ser poeta de verdade
e brincar ao bom leitor
sem ter visão nem ansiedade.
Isso, pronto, não se sintam frustrados
à vossa perfídia e pequenez
já não estão habituados?
Não vos agrada ser vaidoso ladrão
daquilo para o que não têm coração?
Porque quem é poeta sabe que a poesia
não é carne que combine com prato branco
e que o poema tem asas
que suas excelências não vêem
mas é sempre manco.
Assim satisfaçam, vá lá, os vossos egos
sem pagarem o preço dos poetas
porém, no fundo,
por detrás dessas roupagens
eis que surgem rotas e engelhadas
vossas ilustres cuecas.
Isto porque a boa gente
aos pavões de chiclete
sabe sempre também vê-los
refastelados na retrete!





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