domingo, 18 de março de 2018

Sonho do parto de uma criança morta



Sonho do parto de uma criança morta



I.
Largo
Suplício de não
Respirar
Nos braços pedaços
Um proto-sorriso morto
Comprido lençol
Comprimido.

O caminho num sulco
Entre elevadíssimas entranhas
Montanhas viscerais
Sem minas nem poço
Uma seca língua escorrida
Uma serpente presa na pele do Inverno.

II.
Sem muros chega o engulho da morte
Solidão pétrea subterrânea
Na infância que apodrece pelas pernas
Ou uma dilacerada vertigem
Rachada à espada como uma vulva.

III.
No exílio catatónico da chaga
Música selada no cimento de uma rã
Carcaça mirrada sem estrelas de permeio
Coração de areia chumbado no silêncio.

Nas mãos de espelho uma velha
Sem carrossel nos sonhos
Gruta de nariz na terra
Distopia de bicho avariado
Que não serve ninguém.






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