sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

FOG ou Da Igualdade



FOG ou Da Igualdade


A neblina respira sobre o rio

Anta subterrânea da vontade dos homens

O humedecer fixado de uma serpente impávida

Enquanto os pássaros entrançam o frio

Entre o sono pesado dos antepassados

e os galhos tortos de picar os frutos.

 

Numa fisális distendida pelo cheiro da chuva

Vejo o choro limpo das fragas ocultas

E a paciência triunfal da matéria sem rosto.

De lã na matriz mineral ela larga

Um gato solene que declina sobre ti

Uma testa grande de inverno.

Cordões subtis a moldar-te o gesto

Dão-te a inclinação dos ossos violíneos

A expressão isenta de mundo

Os dedos têxteis cegando angústias

E a água que erige a morte telúrica dos vocábulos.

 

De todas as casas nas virilhas dos montes

Subo o pavio das pestanas de pedra

Para comer cru o céu dos altares

Neutralizar os metais nodosos que germinam

Até ao estertorar de cada folha envidraçada.

(De que falavas à noite sobre a igualdade?)

No hiato entre os olhos desata-se

O termómetro dos rins do sol

Vê-se o vulcão meândrico da terra

O ciclo imperceptível e sanguíneo dos muros

E pela íris do barco denso que deslizou

As cores que não morrem com a aurora.

 

Deixou de ouvir abrir-se a boca do mosteiro.

Dédalo anódino no cumprimento do tempo

E na vertigem metálica do pulso.

É o desenrolar da carne num batente branco -

O dia dito pela ascensão das nuvens.
 




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