quarta-feira, 26 de junho de 2013

Breve impressão do NOSTALGIA, de Tarkovsky



NOSTALGIA



Cantam os cães nas alvoradas da bruma. As peles loiras da planície encantam o homem que diz não te ver no bravo silvo da malignidade dos alvos que são sem pernas. Tenho que cortar o arrepio dos dedos para viver: esmaga-me a luz da tua nostalgia. Há clarabóias antiquíssimas como lírios sulfurosos a esconder a água, e proteger o amor dos teus olhos de chacal é a ordem inscrita no silêncio. Algodão doce confunde trevas nos teus cabelos e a lama perfura o sentido e o tecto da tua memória. Cálices vertem hélices em outrora de neblina, porque a Rússia não deixa ver, a Rússia não deixa ver, e o vento branco planta a cruz na concha das crateras.


 

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