sexta-feira, 9 de maio de 2014

Campos





Campos




Numa serpente alada,

casas velozes a perfurar a noite.
 
Comboio suspenso na bruma do devir,

máquina que na névoa adensa a revolta.

Nos trilhos da humanidade traída,

uma ave de rapina pacientemente busca

o vento do lento desmantelamento do real.

Sobre a cinza destes crepúsculos tristes,

nesgas de sangue arrepiam os céus

no travo ígneo da ira imensa.


A lua dá-se no suor dos campos,

covis de uma acidez sem nome,

poços anil de enxada magoada.


Porque um rio afoga os seus peixes,

no grosso leito acolhe os cadáveres,

e passa à superfície como uma pele inocente,

acariciando as ervas e as nuvens.



Há bosques de sangue claro nos telhados do meu sonho,

mas sobre a tela esverdeada

apenas brisas rasas.



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