quarta-feira, 26 de junho de 2013

Manhã Suspensa



Manhã Suspensa



Emaranhou-se a fogueira de vidro silente em mim. O cristal incha em golpes de caligrafia, preenche as lacunas do corpo num sono soalheiro e húmido. Faz-se quente inefável, tesouro espraiado, praça visual de prata líquida. O vidro embaciado entrelaça a sua luz cega nas minhas veias dormentes e doces. Clara como uma nuvem poética de micro-espelhos oblíquos, a janela filtra a ave e o sonho quântico num morno arrastar-se embriagado da manhã. Sim, o ar está gelado. E o brilho vidrado propaga-se no meu vácuo e invoca a ternura, lutando desnudo num fogo vago. São espirais de seda pasmando os quartos do ar em melodia de espasmo. São gotas pintadas a luz caiada filtrando a febre e o medo inaudito das esquinas.


 

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