Manhã Suspensa
Emaranhou-se a
fogueira de vidro silente em mim. O cristal incha em golpes de caligrafia,
preenche as lacunas do corpo num sono soalheiro e húmido. Faz-se quente
inefável, tesouro espraiado, praça visual de prata líquida. O vidro embaciado
entrelaça a sua luz cega nas minhas veias dormentes e doces. Clara como uma
nuvem poética de micro-espelhos oblíquos, a janela filtra a ave e o sonho quântico
num morno arrastar-se embriagado da manhã. Sim, o ar está gelado. E o brilho
vidrado propaga-se no meu vácuo e invoca a ternura, lutando desnudo num fogo
vago. São espirais de seda pasmando os quartos do ar em melodia de espasmo. São
gotas pintadas a luz caiada filtrando a febre e o medo inaudito das esquinas.
Sem comentários:
Enviar um comentário