As estátuas também têm fome
O tempo passa e
a estátua constrói-se.
Busco granadas
como pão que me desfaça a fórmula de que me esqueci.
Mas sou. Isto de
pedra arranjadinha.
Por isso se me
parte o horizonte em vagas de rocha suada pelo gerúndio desencanto.
Por isso as
feras comem primeiro as minhas pernas, mas deixam sempre as janelas para o
deslumbramento do olhar.
Por isso as
facas suspensas sobre o peito cosmogónico excretam os terríveis.
Que venha, que
venha ela –
a impiedosa garça da indolência incendiada,
que me desfie os
olhos e martele o traço,
o traço
granítico de escuridão em gume fossilizada.
Ah maravilhosa
brusquidão da morada bélica a mamar o vazio em mim.
Ávido semblante
de náusea constelado,
punhal sem olhos
no lapso
lapidado sem tempo de parir o fruto.
Negro suave?
Isso é ao longe.
Nas baratas
bolorentas dos armários embutidos
Já o rumo e o
desnorte!, a órbita desviada!
Já o sol e o
veneno e o sol estilhaçado.
Firme, de morte
na boca e língua esfarelada,
estendo ao vento
o cálice fragmentário da desalma,
e no leito do
trágico marítimo derramo
a canção
nocturna da miséria humana.
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