QUASE
Cordéis de psicose arrastam o lodo
do fundo do lago para o meu coração. Fritam-se em água electrificada novos
conceitos de estar, jovens anzóis de noites por vir, labaredas trémulas de
sonho verde. Navios desaguam vozes dissonantes em cais de cristal negro, e a
bruma é o maestro louco que as levanta com as ondas batendo as rochas num crime
contra a noite. Estou Quase, diz o futuro, sou sempre Quase, como tu.
Monstruo-me em lagoas salgadas de vozes perfuradas, águas-balão despenhando-se
no ar, a glória do marinheiro naufragado. Feras insensatas rasgam trilhos por
entre a volúpia tenebrosa da doença. Silvos de medo estendem a sua língua sonora
até ao coração dos juncos e das crianças sensíveis. A falésia pré-estoira em
limas ácidas e belas sobre a praia abrindo os lábios esplêndidos do
esquecimento e da apatia. Até que vêm por fim as flores lilases desse teu tremor
expectante e terno abrir-se em mim, como se o calor de um ninho escutasse a
canção de uma tímida aurora.
Sem comentários:
Enviar um comentário