Estalactites
Fios fins pendem no imenso
salão transbordante de vazio.
Fios que morrem não percorridos,
nuvens-tecla não tocadas,
frágeis desfiladeiros bordados a
cristal.
Fios sós, fios tensão,
delírios perpendiculares
em ânsias de constelação.
Mas não há aqui loucura…
Cinco abismos suspensos,
nevrálgicos,
asas no tecto da noite ancoradas,
finos delicados frutos
órfãos
da ilha do frémito –
Fios-soluço sem mandíbulas,
macias cordas de medo fendidas,
suaves belas éguas
do branco penduradas,
forcas enforcando-se de orvalho
ante a cegueira do que é oco.
Fins em fios tecidos.
Pêndulos abandonados
num país sem relógios.
Fios arcos d' inverno,
como pendentes mortos
no pescoço do desejo,
jóias no sono dos espectros
desmaiadas.
Fecho os olhos…
Fios acesos e sós.
Fios sós… fios lágrima,
gotas de música escorrendo
luz suicidada.
Fios desperdício de um útero seco,
Branco Silêncio infértil.
Fios que são frio!,
que suam a dor sem deus,
sem instituição.
Fios buraco
correndo em silêncio
o contínuo
imóvel dos teus olhos.
Fios aquário
mergulhados
nos véus
intocados de uma mão sem par.
Fios sós… (já o
disse?...)
Perdidos,
condenados,
nus,
espartilhados,
esguios seres
sem lar.
Abro os olhos…
São fios tão
tristes que
a sua luz
multiplica a escuridão,
são pássaros
feridos, laminados,
agonia em geada
contida,
beleza numa
trança estrangulada,
caroços de nada,
Fios, fios,
fios!, fios!,
olhos
esburacados de olhar,
ovos-ombros de
ave naufragada,
fios tão tristes
que morrem a brilhar.
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