O ERRO
Assustam-se as
flores tímidas dos inícios boreais. Antes do não-poder-ser estourar com o futuro,
o verbo difuso brota segredos de sílex que escoam lentos para a terra profunda.
Há olhos de gato a perfurar a noite de um azul perfeito. Há ovos quietos e
quentes embalados na solidão pela vertigem das estrelas. Esfinges mansas
estendendo a mística em vermelho de línguas compridíssimas na areia nocturna
que cerca o lençol. Mas depois vai-se o medo e vem o Medo. És só tu e a noite,
num oráculo selado do avesso. A angústia abraça-te condoída do teu nome, mas tudo o que
pode é apertar-te a raiz, encher-te o útero de alfinetes, dar-te o alívio da
morte pequena, a cegueira dos álcoois em esperanças oníricas, misturadas no teu
peito de antílope. E tu imploras, imploras paz e aves brancas, soluças
silêncios, engoles o grito que se vem por dentro e gemes círculos muito baixinho
para ninguém perceber. Deitas rasa a doçura no plano do mundo, cona de criança
desatada no abandono de um deserto imenso, e beijas o nada que o chão exausto
te dá, baloiçando borboletas que morrem na espera vã de uma resposta.
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